16 de dezembro de 2012

Para não dizer que não falei dos amores


Cultura não é, nem de longe, a área com a qual a foca tem mais afinidade, mas me senti tentada a escrever sobre o filme que me proporcionou ótimo momento neste fim de semana. Falo do “Liv & Ingmar - Uma História de Amor" sobre a relação de 42 anos entre a atriz Liv Ullmann e o cineasta Ingmar Bergman – primeiro como companheiros de trabalho, depois como marido e mulher, e por fim como grandes amigos.

Na Folha, li que o filme acabara por se tornar enfadonho; o Estadão – que deu a capa do seu “Caderno 2” de sexta – foi só elogios, especialmente acerca da sensibilidade com a qual o diretor Dheeraj Akolkar aliou o que lhe contou Liv com as cenas dos filmes de Bergman que ela protagonizara, arrematando com as belas paisagens norueguesas. O resultado, definitivamente, me encantou de tanta sublimidade.


“Liv & Ingmar” está blocado em sentimentos, partindo do amor entre os dois, passando pela solidão de Liv e culminando na saudade – esse último, meu preferido. Este é o momento em que enxerguei uma Liv de feridas cicatrizadas e me deparei com a dor mais inexorável e incombatível de todas que é a saudade. Um recurso muito utilizado pelo diretor Akolkar – aproximar a câmera da parte superior do rosto de Liv, deixando seus olhos azuis no centro da tela – ajuda-nos a perceber uma virada de sentimentos. A mulher, que até então se mostrara plenamente ciente de sua história a ponto de entregar ao público a análise madura de uma relação amorosa umbilical, se transforma sob nossos olhos em pura saudade. E chora.

Aos leitores que se renderem à história e forem assistir ao filme, dedico as cenas dos desenhos na parede sob os raios do Sol, o bilhete no urso e o Stradivarius. Ah, o Stradivarius... Essa alusão à marca mais cara e cobiçada de violinos provocou suspiros na sessão.

Aqui em São Paulo, “Liv & Ingmar - Uma História de Amor” está em cartaz em apenas quatro salas – três do Itaú mais o Reserva Cultural, na Avenida Paulista. Eu estive no Espaço Itaú de Cinema do Shopping Bourbon, onde o filme é exibido em sala especial de apenas 60 lugares, com poltronas de couro enormes e confortabilíssimas. A contrapartida é que os horários não são tão flexíveis quanto nos demais endereços. Peguei a sessão do sábado à tarde, uma das mais propensas aos espectadores por acidente – aqueles que param em frente à bilheteria e escolhem pelo título, pelo cartaz ou pelo que quer que seja, que não o enredo. Tive sorte. Nada de sala abarrotada, conversinhas paralelas e gente que mais parece ter prego no assento. Sobre a faixa etária, posso dizer com segurança que todos os poucos espectadores tinham idade para serem meus pais.

Aos que estão dispostos a conhecer a trajetória da atriz e do cineasta, desejo que tenham uma sessão tranquila para que possam se concentrar naquele rosto nórdico e marcado pelo tempo de uma mulher que nos conta a história de seu grande amor, aquele que começou e terminou seguindo a trajetória dos amores genuínos. Liv e Bergman foram da paixão à amizade e assim se tornaram eternos. 



A correspondente da Globo News em Nova York, Sandra Coutinho, fez uma entrevista bem acertada  e emocionante para ela  com a Liv Ullmann, o que me despertou para a história do casal. Vale a pena assistir antes ou depois do filme.


*** Para quem ainda não está habituado com o "foca", recorrente aqui no Declarando, explica-se: é o termo que designa jornalistas em começo de carreira.

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