12 de julho de 2012

“Enlace – a Loja do Ourives” pela foca que viu, ouviu e entrevistou

Vamos falar de teatro? Eu quero apresentar para vocês um musical que está em cartaz no TUCA, o teatro da minha universidade. Não me entenda mal por esse “minha”, caro leitor, mas há uma coisa na vida chamada “espírito puquiano” que contagia aqueles que entram na Pontifícia e os faz ter a impressão de que todas as dependências são deles. Pobres de nós, aprendizes de megalomaníacos. Tse tse tse...

De volta ao teatro, “Enlace – a Loja do Ourives” é um musical com ares de mega produção: são 26 atores em cena cantando e dançando ao som de uma orquestra com 10 músicos e outros tantos profissionais por trás das cortinas que garantem as trocas de roupas e cenários. Afinal, um espetáculo que vai e volta nos três tempos da história – anos 30, 60 e 80 – precisa de fôlego para segurar bem as 2h15 em cena. Dica: se essa coisa de atores cantando e dançando não costuma te agradar, não perca seu tempo indo ao TUCA. “Enlace” é para quem gosta – ou pelo menos não desgosta – de um enredo agitado, com idas e vindas e diálogos que terminam em cantoria.

Foto: Divulgação
Já falei do formato, agora vamos à história. Antes de qualquer coisa você deve ficar sabendo que o texto é adaptado do original de 1960 escrito pelo Papa João Paulo II. À época ele ainda não havia se tornado Papa, seu nome era Karol Wojtyła e sua função, bispo da Cracóvia.

Aqui eu faço duas considerações de extrema importância sobre “Enlace”: 1) Já que foi um homem da Igreja Católica que escreveu, a peça é religiosa? Não, a peça não pretende catequizar ninguém. A palavra-chave é amor. O enredo é nada mais que uma proposta de reflexão sobre o que fazemos do nosso amor e do amor dos outros. Isso se dá através das três grandes mulheres: Teodora – matriarca da família e apegada à tradição –, Ewa – a hippie nada afeita aos rituais e toda independente – e Mallina, a caçula do trio, moderninha, cheia de dúvidas sobre o casamento. (Laila Garin leva a platéia às gargalhadas com essa personagem.)

Segundo ponto importante: não ser carregado de costumes católicos não significa que o enredo seja ousado, questionador de valores, de vanguarda. Karol Wojtyła era até “moderno” para sua época, foi também ator, mas não espere dilemas sexuais ou um final surpreendente. Se você acha que um enredo sobre amor é, então, um enredo religioso, aí é com você. Da mesma forma que se você achar que problematizar o amor através do casamento esteja fora de moda, “Enlace” talvez não seja uma experiência para eu te indicar. Mas o musical veio para mim como uma oportunidade interessante de ver refletidas em personagens ficcionais situações com as quais já me deparei (você provavelmente também) como os sentimentos controversos de um casamento falido, as expectativas carregadas por gerações, medos e angústias nas relações interpessoais.

Para preparar a reportagem para a TV PUC (que coloco no fim deste post) eu fui conferir o musical, mas já voltei outras vezes atraída pela trilha sonora nota dez do Thiago Gimenes, o texto rápido e bem adaptado para o português do Elísio Lopes (irmão do Lázaro Ramos – que família!) e atuações que nos prendem do começo ao fim, como a suave Teodora da Françoise Fourton, o garbo do Luiz Guilherme no papel de Ourives, a vivacidade da Giselle Tigre como a “anti-heroina” Basha, a estereotipada e acertada Tia Jô feita pela Chris Ferri e o charme do Claudio Lins em um encantador Adão – para citar apenas cinco atores, alguns que eu entrevistei, de um grupo que está muito afiado. Todos sob a direção geral do Jô Santana.

Os preços – há de se informar – não são os mais “populares” da praça, mas quem não tem carteira de estudante também consegue os 50% de desconto. Basta adquirir o ingresso com ação social, o que implica na doação de uma lata de leite em pó ou Mucilon que será entregue à Cruz Verde. Outra dica é acompanhar a página da “Enlace” no Facebook onde acontecem promoções e você pode assistir à peça na faixa.

A foca adorou mais um desafio de cobrir peças de teatro (o drama do lugar comum e das “mesmas perguntas” mandam lembrança!) e então decidiu compartilhar a experiência com vocês. Para quem está procurando um musical em São Paulo para se divertir, “Enlace – a Loja do Ourives” é uma boa pedida e fica em cartaz até 12 de agosto. Quanto ao TUCA, enfim, é muita história dentro de um só teatro: vale a googada e a visita! Fica aqui o depoimento de quem foi “enlaçada” e espera que vocês sejam também! Ou, ao menos, que se dêem a chance.

* Ana Beatriz é estudante de jornalismo e aquelas coisas descritas no perfil ali ao lado. Quanto ao “foca” explica-se: é o termo que usamos na rodinha jornalística para se referir aos recém formados.  


2 comentários:

  1. A peça é excelente e os atores de muita qualidade!!!

    Parabéns, Ana pela reportagem! Arrasou!

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  2. Parabéns pelo texto! Traduz exatamente o que sinto por 'Enlace'.
    Gostei tanto do musical que já o assisti cinco vezes. Só que não moro em São Paulo, mas no Rio de Janeiro! Enquanto o espetáculo não vem para o Rio, vou fazendo a ponte aérea...
    Ana Beatriz, aqui está outra 'enlaçada'. Parabéns!

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